quinta-feira, 2 de julho de 2015

Francisco Castro ex-GCD Regadas...Grande Entrevista!


Texto e fotos: Abel Castro

  • Penso que todos os treinadores deviam treinar a formação.
  • Em tudo na vida, me ensinaram a não ser ingrato.
  • Parece que os dirigentes só me contactam quando estão em desespero.
  • É muito melhor comer o bife do que rapar o osso.
  • Apesar de convidado, sou um treinador livre.
  • Por aquilo que fiz, a ingratidão de alguns deixa-me triste.

FafeDesportivo esteve à conversa com o treinador Francisco Castro, ainda jovem, 41 anos, mas possuidor de um excelente palmarés. 
Em 2005/2007 esteve nos juvenis da Associação Desportiva de Várzea Futebol clube, em 2007/2008 nos juniores do Barrosas, em 2008/2009 na formação de juvenis do Barrosas, em 2009/ 2010 treinador adjunto no Rio de Moinhos, da Divisão Honra da A.F. Porto, acumulando funções como treinador principal no F. C. Felgueiras, escolinhas. 
No ano 2010/2011 foi treinador adjunto no Operário de Antime, acumulando também funções como treinador principal no F. C. Felgueiras – Infantis. Corria a época 2011/2012, foi treinador adjunto no G. D. Silvares, acumulando funções de treinador principal no Barrosas- escalão infantis. 
A partir de Fevereiro foi transferido para o Antime, exercendo como treinador principal. Em 2012/2014 continuou como treinador principal do Antime - Divisão de Honra. 
Passou depois na temporada 2014/2015 pelo Desportivo de Arco de Baúlhe - Divisão de Honra e na mesma época no Grupo Desportivo de Regadas, também da Divisão de Honra da A.F. Braga.

FafeDesportivo: Francisco Castro, são 10 anos de técnico de futebol, com passagens por oito clubes diferentes. Desses clubes, ressalta a formação, onde já efectuou muito trabalho. Gosta de treinar a formação, ou isso aconteceu apenas no seu início de carreira?

Francisco Castro: Claro que gosto de treinar formação, aliás penso que todos os treinadores deveriam treinar na formação durante algum tempo antes de abraçar um projecto de seniores. No meu caso felizmente trabalhei em quase todos os escalões de formação e como pode reparar no meu currículo  em alguns anos já a trabalhar a nível de seniores acumulei função em outros clubes, escalões de formação, o que me levava a não ter dias de folga de Segunda a Domingo, acho que isso é a maior demonstração de que gosto de treinar na formação.
FafeDesportivo: Fica a sensação de ser um técnico que não gosta de estar muito tempo num clube (10 anos e oito clubes). Corresponde à verdade?
Francisco Castro: Não...Não se trata disso, acho que todos nós treinadores estamos sujeitos a isto, muitas vezes estamos mais tempo num clube noutras estamos menos tempo, mas isso depende das circunstancias, de um outro projecto que apareceu e eu entendi que seria melhor, uma outra proposta mais aliciante em termos desportivos e se calhar financeiro ou mesmo, o conhecer de outros clubes e trabalhar dentro deles para assim poder também adquirir outros conhecimentos e também outras maneiras de ver e viver o futebol.
FafeDesportivo: Sabemos que é um admirador confesso de Vítor Pacheco e vice-versa. Hoje aplica em campo as ideias base dele, ou tem a sua própria matriz?
Francisco Castro: Sim é verdade, e penso que da parte dele também é recíproca essa admiração, trabalhamos juntos durante bastante tempo em que comungamos ideias, em que fomos uma verdadeira dupla tanto em termos de trabalho como em termos de honestidade e lealdade que sempre tem que existir entre treinador principal e adjunto, e isso aconteceu connosco, mesmo em algumas situações em que tínhamos opiniões diferentes, mas que eu como adjunto o apoiava a 100% na decisão final dele, o que infelizmente não existe em todas as equipas técnicas nem em todas as pessoas que fazem parte delas. Logicamente que, como é sabido, cada treinador tem as suas ideias e eu não fujo à regra adaptando aquilo de bom que aprendi trabalhando com ele, juntamente com as minhas ideias e aquilo que eu pretendo para as minhas equipas.
FafeDesportivo: A sua “explosão” como técnico principal de seniores ocorreu quando era adjunto no GD Silvares, sendo convidado pelo Antime que vivia momentos difíceis. É um treinador que tem propensão para situações difíceis?

Francisco Castro: Não se trata de difíceis ou fáceis, naquela altura era uma situação muito difícil e foi uma decisão também difícil de tomar por tudo o que ela envolvia, mas há momentos na vida em que temos que tomar essas mesmas decisões sem hesitar e nesse momento foi o que fiz, e na minha opinião fiz bem. 
FafeDesportivo: Conseguiu a manutenção do Operário de Antime no último jogo e no último minuto. É o maior troféu que ainda hoje guarda?


Francisco Castro: Não se trata de um troféu mas sim de um objectivo alcançado quando ninguém acreditava. Tinham deixado o Operário de Antime chegar ao abismo sem os verdadeiros responsáveis assumirem tal responsabilidade, o que me deixou numa situação praticamente dada como perdida, mas com a minha persistência, da Direcção e o fazer acreditar aos jogadores que era possível, conseguimos o que muitos não queriam e tudo fizeram para não acontecer, dando sequência nos anos seguintes com os resultados positivos e a estabilidade actual do clube.
FafeDesportivo: Agora vêm os momentos menos bons da vida de um treinador de futebol. No Silvares, em situação mesmo dramática, não evitou a descida. Porque aceitou o convite de uma equipa que estava praticamente condenada à descida de divisão?
Francisco Castro: Exactamente. Como você refere na pergunta ''uma situação dramática e praticamente condenada à descida''. Em tudo na vida me ensinaram a não ser ingrato e felizmente os meus pais assim o fizeram comigo, como eu já tinha trabalhado em Silvares numa situação estável e boa para qualquer treinador, decidi quando as pessoas me convidaram a pouquíssimas jornadas do fim, tentar a salvação e não lhes virar as costas, pois é um clube pelo qual tenho apresso e achei que deveria pelo menos ajudar as pessoas e o clube a tentar os seus objectivos. E tanto ajudei que não foi possível a salvação, pois a situação em termos de estrutura também não era a mesma que encontrei em anos anteriores por isso ao fim de três jogos, e poderia ter ficado até ao fim, mas já sem nada a fazer em termos desportivos decidi abdicar de um valor monetário que me teria que ser pago no dia seguinte à minha saída e eu em frente ao grupo de trabalho abdiquei desse valor para ajudar a Direcção a cumprir com os jogadores no restante tempo que faltava.
FafeDesportivo: Seguiu-se uma nova aventura em terras de Basto, no Arco de Baúlhe, num projecto de nascença. Não terminou a temporada no DAB. Porquê?

Francisco Castro: Desde já quero dizer que foi com grande agrado e satisfação que recebi o convite do DAB para treinar este grande clube. Desde o início que tivemos algumas dificuldades devido às obras existentes no nosso campo de jogos, que muitas vezes não nos permitia treinar da melhor forma. Mesmo assim e com um plantel reduzidíssimo derivado às lesões de alguns jogadores, durante o defeso tivemos um início de campeonato muito bom com a equipa a produzir e a ser competitiva em todos os jogos perante qualquer adversário, mesmo tendo que recorrer à equipa júnior e utilizando juniores de primeiro ano para suprir ausências que tínhamos ( e desde já referir que esses juniores corresponderam aquilo que nós pretendíamos) fomos somando pontos e posicionando-nos sempre em lugares de meio de tabela. E assim foi até à 12.ª jornada, altura em que eu e o meu adjunto e preparador físico prof. Tiago Silva, decidimos demitir-nos pois certas situações que aconteceram que eu não concordo e não admito nas minhas equipas e que puseram em causa o grupo de trabalho e alguns dos meus então jogadores. E para defesa do grupo de trabalho e dos jogadores decidimos tomar essa decisão.
FafeDesportivo: Aceitou mais um projecto muito arrojado no GCD Regadas, que já não vencia há vários jogos e tinha quando assumiu, a defesa mais batida e o ataque menos produtivo. Verdade?
Francisco Castro: Sim, verdade. ''Parece que os dirigentes só me contactam quando estão em desespero'' mas neste caso e apesar de ter encontrado um grupo de trabalho descrente, com a moral em baixo e a sua auto estima também, todos nós acreditávamos que era possível a manutenção do Regadas na Divisão de Honra, pois durante todos os jogos e mesmo defrontando os cinco primeiros classificados nas 11 jornadas que faltavam fomos sempre muito competentes, competitivos, adultos na forma de encarar os jogos e as adversidades em qualquer campo e só não fomos premiados com a manutenção derivado ao facto de em alguns jogos nomeadamente três, situações anómalas em que nós equipa técnica e jogadores não podemos controlar, prejudicaram-nos e foram decisivas na tabela classificativa.
FafeDesportivo: Francisco, face à sua coragem, o seu nome fica ligado a algumas descidas de divisão. Silvares, Arco de Baúlhe e agora o Regadas. São factos que falam por si…
Francisco Castro: Não penso assim. Em primeiro devo dizer e corrigir que em relação ao Arco de Baúlhe, sai à 12.ª jornada com a equipa bem posicionada na tabela classificativa e com a certeza de que se continuássemos ficaríamos entre os seis primeiros classificados, portanto assumo toda a responsabilidade até à 12.ª jornada no Arco de Baùlhe. Assim como assumo toda a responsabilidade no Regadas desde a 19.ª jornada até ao final do campeonato. Quanto ao meu nome ficar ligado a descidas de divisão, se não fosse um homem com H bem grande e de coragem, não seria treinador de futebol e sei que para os treinadores como diz um ditado popular ''é muito melhor comer o bife, do que rapar o osso'' e em vários clubes com as condições que lhes são dadas é muito fácil apresentar resultados, o difícil é encarar desafios como estes ter a coragem de os assumir e sabendo que sou um treinador em que as equipas que pretenderem os meus serviços podem ''só'' contar com o meu trabalho, dedicação ao máximo em defesa dos interesses do clube, sem compadrios ou outras coisas para treinar o clube A, B ou C. 
FafeDesportivo: Neste momento é um treinador livre, apesar de já ter recebido dois convites. Voltaria a assumir uma equipa em risco de descida? Ou só aceita agora projectos novos?
Francisco Castro: Sim, de facto já recebi dois convites, um recusado por mim e outro em que não houve acordo. Aceito qualquer projecto que tenha condições e objectivos para andar em frente, independentemente de ser um projecto para a manutenção ou para subir de divisão. O importante é as pessoas terem objectivos e serem honestas naquilo que dizem e fazem e eu me sentir bem junto delas, havendo da parte delas também essa vontade de me ter como treinador.
FafeDesportivo: Já orientou equipas durienses, de Basto e de Fafe. Diga-nos que diferenças encontrou…
Francisco Castro: No fundo e como todos sabemos o futebol é universal em todo o mundo, mas logicamente há diferenças de clubes para clubes, de cidades para cidades, de condições para condições e de mentalidades para mentalidades. Seria injusto da minha parte dizer aqui, agora e fazer esse tipo de comparações.
FafeDesportivo: Tem ainda uma carreira longa pela frente. Onde pretende um dia chegar como técnico de futebol?
Francisco Castro: O mais longe possível: sou ambicioso mas sempre com os pés bem assentes na terra e quero chegar o mais alto que puder e me for
permitido nesta minha vida de treinador. Mas isso muitas vezes não depende só de mim, no futebol gira muita coisa à volta e em que as oportunidades podem aparecer ou até não aparecer, no meu caso estou satisfeito com o meu percurso até aqui, mas espero daqui para a frente escrever uma página mais vitoriosa num clube em que me dê as condições em termos desportivos que outros colegas treinadores também já tiveram.
FafeDesportivo: Voltar a ser adjunto está fora de hipótese?


Francisco Castro: Não, não está de todo fora de hipótese. Desde que seja um projecto ambicioso com critério com um treinador competente que eu lhe reconheça qualidades, não terei qualquer problema em voltar a ser adjunto, continuarei com a mesma dedicação como se fosse principal e acima de tudo continuarei a ser o mesmo homem regido pelos princípios que me foram ensinados da humildade, honestidade, lealdade, e trabalhar por uma causa, ou neste caso, por um clube. 
FafeDesportivo: A nossa conversa já vai longa. Tem, certamente, elogios/críticas a fazer. Disponha…
Francisco Castro: Desde já agradecer o convite para esta entrevista ''e digo convite, porque ao contrário de outros, não preciso nem peço para ser entrevistado ou publicar algo''. Depois, agradecer todo o apoio da minha esposa e dos meus filhos nestes anos em que me têm acompanhado. Depois a todos os responsáveis dos clubes que acreditaram no meu trabalho e nas minhas capacidades, agradecer também a todos aqueles que me foram LEAIS E VERDADEIROS. Quanto às criticas, não me vou alongar muito, apenas dizer que a ingratidão de alguns por tudo aquilo que fiz por eles é uma das coisas que me deixa triste. Mas o tempo vai-me dar razão.

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